Cometi um erro fatal na revelação dos negativos do concerto da Meredith Monk e ficaram danificados. A performance tinha sido tão extraordinária, a sua voz impressionara-me tanto que certamente perdi a lucidez necessária para fazer um trabalho competente.
A seguir à frustração do meu falhanço, descobri que as imagens que sobreviveram ao desastre afinal eram maravilhosas, o erro transformara as fotografias em objectos plásticos únicos, como se, num desastrado passe de magia, tivesse sido acrescentado algo que lhes dava outra luz, outra dimensão, outro desígnio.
A sua voz ficara indelevelmente alojada num lugar secreto do tecto do meu cérebro. Ainda a ouço de vez em quando, sem aviso, vinda não sei de onde, solta-se e dança livremente; os seus gestos, os movimentos das mãos, dos dedos, as suaves modulações do seu rosto, por vezes assolam-me inadvertidamente.